quarta-feira, 13 de julho de 2011

Relatos da Percepção - O que se Sabe...


A Densidade sempre foi, das propriedades fisico-químicas, a minha predileta...
Uma vez que a encontro em outros reinos encantados...

Apesar de que trilhos e pés nem sempre possam ser separados, pensa-se que o caminho é caminhado, quando pode, este, caminhar pelas solas de pés parados... parados onde? ou estão caminhando por trilhos de uma estação já inativa? Não se passa, há muito tempo, um trem ali... Mas certamente se conduz para algum lugar...
"Era tudo novo"... Era mesmo? ou o que se via, agora, era fruto de um olhar que apesar de caro e já bem maduro, nunca deixou de ser semente em sua preciosa inocência? quem saberia dizer não é mesmo?... talvez seja melhor que tais dissecações do cogito nunca sejam postas nas lâminas, cristalinas e transparentes da consciência, pois, mesmo se ferindo, enquanto no inconsciente, elas não cortam fatalmente a razão, ainda que pouca...
Ainda que tudo já se saiba, há o mistério... o mistério de pensar em como seria se não se soubesse de algo... e quando a névoa se faz completa, do contrário, quer se fazer campreensão, desvelar seja lá o que for e amortecer a noite profunda que não amanhece...

Mosiah Schaule

sexta-feira, 11 de março de 2011

Relatos da Percepção - A Noite no Espírito


Mil noites sem Lua...
Com Luares de contos inventados,
As noites mil se desfaziam em cada Lua Nova...
Cada palavra sussurrada no infinito da alma torpe,
era uma taça de Syra, que logo derretia a memória,
descansando o deleite psíquico em almofadas onde o Oriente adormeceu...
Das miragens Flamencas, o Oceano descia...
Dos alpendres, um musical balsâmico destilava-se e o mistério
ecoava nas partituras do existir...
Num sopro, o frio vento existencial, que demanda, magno, o Saber perfeito,
real em sí, que não se compreende em compreensão ordinária, pede
por excelência, o torvelinho que acolhe a alma em sua origem...
- É o Sol quem desce até as profundas moradas abissais! disse em Lídio,
o juíz das ordens estelares.
- Porém, são as almas que ascendem, através das idéias, aos planos superiores
e constróem Deus à sua imagem e perfeição! responde calmo em sua humildade, o monge solitário que já não envelhece, mas toca na harpa da vida, sua coda em adágio que,
lentamente, desaparece...
O infante que outrora foi cajado, transmudando-se em pirâmide,
desperta alado, em matizes que fogem da visão, mas que se condensam
na alma profunda daqueles que anseiam, simplesmente,
no horizonte da existência, evoluir...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Relatos da Percepção – A xícara


Imagem: Contemplando La Vida - da obra de Jaqueline Shaw

Suavemente, o pouco chá que ainda restava no fundo da discreta xícara, derramava-se no parapeito e, lentamente, aproximava-se de uma insignificante barreira no azulejo sendo, esta, quase invisível aos olhos, mas que ainda assim evitava o derramar em cascata daquele pouco de chá que deslocava-se horizontalmente pela quase imperceptível barreira ao longo da extremidade do azulejo do parapeito, sem dele escorrer para baixo.
Da pequenina xícara, desprovida de qualquer tipo de alças, desprendiam-se ideogramas japoneses em dourado, os quais vinham de muito longe trazendo àquela xícara, uma situação de conforto ao permitir-lhe a condição de um recipiente primariamente semiológico onde, em sua estrutura total, vinculavam-se a finalidade de receber algo em seu interior e emitir algo de seu exterior...
É possível que, a realização completa desta xícara, finalmente, aconteça quando a compreensão de seus ideogramas seja obtida por alguém que ali esteja e, em seguida, um chá a esta xícara sirva. Ela, assim, existiu por completo. Mesmo que não se compreenda seus ideogramas mas, observando-os e obtendo-se qualquer tipo de reação congnitiva através deles como, um devaneio pelo oriente por exemplo, assim se estará realizando as duas etapas desta pequenina xícara ilustrada com ideogramas japoneses.
Podia-se observar, então, que ela estava em plenitude com sua existência para além de suas funções agora.
Já, sem o chá, pois um tanto fora bebido e o que restou havia derramado-se, podia conter esta xícara, em seu interior, todo o vazio que lhe era próprio... uma imensidão incontável para números que pertencem à Matemática das xícaras. Ela é capaz de receber, da mesma forma, uma imensidão de chá; quantidades incognocíveis para o homem, na linguagem das xícaras.
São grandezas proporcionais, seu vazio e seu cheio.
Esta xícara cheia, esta completa de um todo que a preenche em seus limites, os mais ínfimos possíveis.
Para o olhar humano, são apenas 50 mL de chá... mas para o ser xícara, temos o preenchimento de um total que revela toda a capacidade interna própria desta qualidade do ser, uma qualidade que se autoafirma justamente por sua espacialidade, a qual determinará o que esta forma é.
Esta forma é uma identidade, uma entidade relevante para os entes líquidos, sólidos e mesmo gasosos. Ela pode conter. Conter e derramar... ela pode conter entidades nestes três estados físicos e abriga-los, conforta-los e conforma-los, no sentido próprio de dar-lhes forma, também.
Seu estado interno de recipiente, recebe e cria a possibilidade de dar toda a sustentabilidade a uma realidade de líquido, por exemplo, que, por sua vez, forma-se, conforma-se e sossega no interior de uma forma, a qual lhe permitirá o repouso.

Mosiah Schaule

quarta-feira, 16 de julho de 2008

As visitas de tardes...


Quando as roseiras estavam suavemente secas...
Mas ainda com flores...
Somente algumas...

Simplesmente aquele antigo terreno era pequeno...
Porém, de uma imensidão abstratamente física ...
Psiquicamente expansiva e acolhedora em seu silêncio devagar...

Apesar de não ser o domingo no interior da cidadela, dentro dos cercados do quintal dianteiro era mais sossegado do que o comum...
E o deitar suave do arvoredo calmo sobre a rua cinzenta dava sentido ao cinza dos pedregulhos...
Seu verdume não era apenas cor... sua cor não era apenas minha percepção...
Minha percepção não era mais percepção e percepção não era mais...

O que sossegava a viela em atemporalidade não era apenas percepção...
Tudo não estava em sí mesmo...
E assim assoviava-se...
Quanto mais calmo o dia era, mais suave o vento levava os pássaros...

Onde não havia ninguém, a fumaça de uma fogueira recente subia...
Era outro quintal, não o da casa, mas o da porta sem quintal...
Pelo outro lado da casa, onde a rua não se via, criava-se um quintal...
Onde nunca viu-se tal lugar...
Mas ele sempre esteve lá...
Todos o sabiam, todos os que ali nunca estiveram, mesmo pensando estar...
Mesmo percebendo estar...

Os dias que se faziam entre as festinhas de aniversário não aconteciam...
Mas todos ali adoravam provar os quitutes e refrescos das ternas festinhas da menina a qual todos atribuiam uma percepção menor dos fenômenos naturais da existência...
A realidade se desfazia para sua clara percepção das tardes, dos ventos...
Tudo não passava de dissertações fugazes por entre o cotidiano dos que a criavam e de todos os que ali visitavam...

Pois hora ou outra viu-se por si mesmo, o tempo dali onde não se contam horas, que ninguém passou de fato por aquelas festinhas e pela ternura da realidade própria da pequena aniversariante...

Nunca identificou-se, com a percepção dos demais, a qual conduz os demais, que não se percebe pela própria percepção a percepção de quem percebe de modo a não perceber as coisas...
A singularidade das relações psíquicas que dissipam-se dela, fazem-se de modo a não fazerem-se...
Distanciando-se de todas as tentativas de proximidades perceptíveis...

O fogão esquenta toda a casa...
Desde quando não havia o frio...
Pelos amontoados de calma, a doçura de sua infância floria em si mesma, onde, estendida por toda sua vivência, estava...

A visão de uma realidade pelos que ali visitavam terminava em si mesma...
Assim, tal doçura não era apenas o fruto de uma percepção limitada em si ou no que ela pode conferir como real fora de si...


Mosiah Schaule